O Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, localizado em Aparecida, SP, é um dos mais importantes centros de devoção mariana no Brasil, atraindo milhões de romeiros todos os anos. Um dos elementos centrais da novena e da grande celebração em honra à padroeira do Brasil é o trono de Nossa Senhora, onde a imagem da Santa é colocada para ser venerada pelos fiéis. Em 2024, o trono será novamente projetado pelo Prof. Almir José Neto, professor do curso de Arquitetura Sacra do Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP), que pelo segundo ano consecutivo recebeu essa honra.

Almir Neto, que também atua como arquiteto especializado em projetos de igrejas e espaços litúrgicos, compartilhou suas reflexões sobre a criação do trono, o significado pessoal desse convite e as inspirações para a concepção da peça que marcará a novena deste ano.

ITESP: Professor Almir, você foi convidado pelo segundo ano consecutivo para criar o trono de Nossa Senhora Aparecida para a novena de outubro. O que significa para você, pessoal e profissionalmente, ter a oportunidade de contribuir com um trabalho tão simbólico no Santuário Nacional? 

Almir Neto: Ah, sem dúvidas é uma honra imensa servir à Mãe Aparecida em um projeto tão singular. Confesso que inicialmente não cogitei projetar o trono por mais de um ano consecutivo. No ano passado, acreditei que estava presenteando nossa Rainha e Padroeira com um projeto que fiz por amor. Depois, descobri que o presente quem recebia era eu, ao poder fazê-lo, e, como bom “filho mimado” que sou, penso que Ela quis me presentear mais uma vez com a alegria de pensar a base de onde abençoará todo o Brasil, nossas famílias e, rogo, também todos os meus alunos, a equipe do escritório, os projetos e as obras em desenvolvimento, durante o novenário e a festa deste ano.

ITESP: Quais foram as suas principais inspirações para o design do trono deste ano? Quais elementos estéticos e simbólicos podemos esperar encontrar nessa obra que destacam a devoção a Nossa Senhora? 

Almir Neto: Fizemos o projeto a partir de três pontos principais: o próprio tema da festa e a arte da capa do livreto da novena; o uso da madeira e das flores como elementos base de toda a composição; e o desejo de pensar algo que não recordasse muito o que fizemos no ano passado, para que fosse realmente único, singular e próprio da festa deste ano. Assim, a Santíssima Virgem, como boa mãe que é, estará como num “jardim em frente de casa” esperando todos os seus filhos, peregrinos da esperança.

ITESP: Sabemos que você é professor de Arquitetura Sacra no ITESP. De que maneira a teologia e a arquitetura sacra influenciaram o processo criativo na concepção do trono? Como esses conhecimentos ajudaram a unir espiritualidade e estética na peça? 

Almir Neto: Mais que influenciar, eu diria que teologia e arquitetura sacra são fundamentais na concepção deste projeto. Vale lembrar que teologia e arquitetura sacra estão intrinsecamente conectadas. Não há arquitetura sacra sem teologia, da mesma forma que a teologia pode, e deve, ser revelada na arquitetura e na arte sacra. Juntamos isso a um estudo minucioso de formas, volumes, materiais e proporções, e assim construímos o trono.

A tradição do trono de Nossa Senhora é altamente simbólica para os milhões de fiéis que visitam a Basílica. Ele é mais do que um suporte físico para a imagem da padroeira, é uma representação do acolhimento e da intercessão de Nossa Senhora pelos seus devotos. O projeto deste ano, criado pelo Prof. Almir Neto, pretende transmitir uma atmosfera de proximidade e carinho maternal, trazendo à mente as entradas das casas interioranas, onde mães, tias e avós acolhem com amor os que chegam.

Essa tradição também impacta diretamente a formação dos alunos da extensão em Arquitetura Sacra do ITESP, assim como os da graduação. A concepção de um projeto como o trono envolve não só habilidades técnicas de design e arquitetura, mas também uma profunda compreensão litúrgica e espiritual. A formação teológica é essencial para que os estudantes consigam não apenas criar um espaço esteticamente bonito, mas que também dialogue com o mistério da fé e toque o coração dos fiéis.

ITESP: Como foi, para você, o desafio de novamente criar um espaço tão especial para acolher a imagem de Nossa Senhora durante a novena? Houve algum aspecto diferente ou novo em relação ao ano anterior, e como você vê essa continuidade na sua trajetória como artista e devoto? 

Almir Neto: Como respondi anteriormente, não era minha intenção fazer o trono por mais um ano, e depois que o assumimos novamente, não queríamos algo que tivesse identificação visual com o do ano passado. Esta é uma característica que busco em toda minha atuação profissional. Da mesma forma que não quero simplesmente espalhar uma assinatura estética ao projetar igrejas pelo Brasil, também não tinha o desejo de fazer um trono que tivesse a “cara do Almir”, mas sim, uma identidade própria para a festa deste ano. No ano passado trabalhamos com a sensação de transparência e leveza. Este ano, optamos por uma concepção que “brinca” com a robustez e a densidade dos volumes.

ITESP: O trono de Nossa Senhora é uma peça central para a novena, que reúne milhares de devotos. Como você concilia a tradição e a inovação no seu design, de forma a tocar o coração dos fiéis e, ao mesmo tempo, trazer algo novo para essa celebração tão importante? 

Almir Neto: Pois é, esse é o grande desafio… Tocar o coração das pessoas é o essencial em um projeto como esse, então, eu literalmente apelo para o que toca o meu coração. No ano passado, fizemos uma grande rede de pesca, pois foi essa a primeira “casa” da Virgem Aparecida. Este ano, a identificação está mais ligada à presença maternal de Nossa Senhora em nossas casas. O trono é uma celebração às entradas das casas onde as mães acolhem seus filhos. Desejo que todos se sintam acolhidos pela Mãe Aparecida, como se estivessem sendo recebidos por ela em suas próprias casas.

O trabalho do Prof. Almir no Santuário Nacional, além de ser uma grande contribuição para a fé e a cultura católica, também oferece aos alunos do ITESP a oportunidade de testemunhar como a formação teológica e arquitetônica pode se manifestar de maneira concreta. A espiritualidade que permeia o processo criativo é parte fundamental do que é ensinado nas salas de aula do Instituto, onde a união entre teologia e arquitetura sacra busca sempre produzir frutos que glorifiquem a Deus e edifiquem a Igreja.

Por: Arison Lopes, Comunicação ITESP.

Imagem: Reprodução site | Missionários Scalabrinianos